Aster costura afetos e hardcore melódico em novo EP “O Que Não Se Quer Perder”

Publicado em 26/10/2025 por Homero Pivotto Jr.
Aster costura afetos e hardcore melódico em novo EP “O Que Não Se Quer Perder”

O novo EP da Aster (Canoas), chamado “O Que Não Se Quer Perder”, traz mais do que cinco músicas de hardcore melódico – base do som que a banda criada em 2007 faz. O apanhado de referências sonoras punks e alternativas do registro ganha força por ser costurado pela parceria e química entre os integrantes, bem como por demonstrações de afeto, questionamentos e reflexão. Cada canção foi captada em um estúdio diferente da cidade natal da banda, saga que está registrada em uma série documental de cinco episódios que fala sobre cada composição e seu processo de gravação.

Sonoramente, o quarteto passeia por caminhos não tão brutos do subgênero derivado do punk – Dead Fish, Samiam, Cólera e Dag Nasty são artistas que vem à mente. No entanto, acrescenta guitarras ruidosas que lembram figuras clássicas do indie e do post-hardcore, como Sonic Youth e Fugazi, por exemplo. O flerte com o pop barulhento, mantendo a essência HC, dá as caras já na faixa-título, que abre o disco como primeira música propriamente dita. Nela, o guitarrista Sérgio Azeredo apresenta uma linha de guitarra criativa e envolvente. Antes, temos a intro ‘Zinha’, uma gravação de Hormezinda Isaías, mãe de criação do vocalista Felipe “Paulista”, que, à capela, nos brinda com versos musicados para se pensar o racismo como algo estrutural. “Era assim que mãe preta fazia / criava seus brancos com muita alegria / Porém lá na senzala pai João apanhava / mais uma lágrima enxugada” diz trecho do lamento.

A terceira faixa é ‘O Mundo’, um aceno ao hc nacional do fim dos anos 1990/começo dos 2000 que lança a pergunta: será que eu mudei ou o mundo me mudou?

O ‘Céu e o Inferno’ vem na sequência como um relato acelerado de quem vive entre os reinos de deus e do diabo. ‘A História de Nós Dois’ é o típico manifesto de quem trombou com o amor nesse mundo odioso. ‘Pra Quem’ fecha o EP em ritmo intenso e dueto de vocais gritados que trazem mais uma questão a se pensar: pra quem você entrega o coração, nesse mundo de ilusão? (uma analogia esperta com as curtidas que se dá em redes sociais).

Abaixo, Paulista fala um pouco sobre o mais recente trabalho:

“Recentemente a gente gravou um EP entitulado “O Que Não Se Quer Perder”, produzido por Claudio Oderich, em um projeto idealizado a gravar cinco músicas em cinco estúdios diferentes de Canoas. Todos esses estúdios fazem parte da história da banda de alguma forma, gravando ou ensaiando. Três desses estúdios foram seriamente afetados pela enchente de 24 ficando completamente submersos. Por isso, ter feito esse trampo um ano após o caos que afetou todo o estado soou como um suspiro de renovação onde a gente pôde contemplar e ser contemplado por esses estúdios, onde por tantas vezes nos reunimos pra fazer o que tanto gostamos e nos faz sentido. Quem tá nesse rolê, sabe como é.

Em cada estúdio foi gravada uma música. Os que não tinham a estrutura de gravação, essa estrutura foi levada por nós. O importante é que cada música tivesse as paredes de cada estúdio em si ressoadas em sua respectiva gravação. Ao mesmo tempo em que pra cada episódio foi gravado um minidocumentário com produção da Chama Video Independente.”