Se o futuro é vortex, o presente revisita o passado para mostrar a atemporalidade da obra dos Replicantes. É isso que se vê – ouve, melhor colocando – no álbum “Nunca Mais Eu Ouço Você – Um Tributo a Os Replicantes”, lançado em maio deste ano. O projeto foi concebido e produzido por Edu Normann (da Space Rave) e Fábio Gabardo (proprietário do estúdio Dub). Escolha sua plataforma preferida aqui para ouvir a todo volume. E lembre-se: seja punk, mas não seja burro.
“A pilha começou em março de 2024. O Heron (baixista d’Os Replicantes) vai direto tomar um café expresso lá no Dub. Daí, recém eu tava ouvindo umas gravações de 2010/2011 dos Dating Robots e tinha a versão de ‘O Futuro é Vortex’, meio electropunk. Eu já havia idealizado e lançado Um Tributo Brasileiro ao Kraftwerk pelo selo Maxilar Music e tava meio entediado procurando alguma confusão. Foi quando tive essa grande ideia óbvia”, afirma Normann.
A compilação reúne 17 bandas – entre veteranas e galera da nova safra – prestando homenagem ao quarteto punk porto-alegrense, sendo 11 delas do Rio Grande do Sul. A saber: Loomer, Walverdes, Dating Robots, Os Pampa Haoles, Space Rave, Kim Kircher, Inaprops, Os Torto, Flu & Carlinhos Carneiro, Damn Laser Vampires e Flor Lagarto.
Já os nomes forasteiros que estão na empreitada são Dirty Grills (Florianópolis), The Biggs (Sorocaba), Autoramas (do peregrino Gabriel Thomaz), Cigarras (Curitiba) e Anvil FX (São Paulo), além dos cubanos da Katarziz – atualmente residindo na capital gaúcha e contando em sua formação com um brasileiro e um venezuelano.
“Eu havia pensado em 11 bandas, mas por vários motivos afetivos e para consolidar parcerias com vários artistas que eu admiro, acabou fechando em 17 músicas. Daí meus critérios foram: não basta ser uma versão de música gravada pelos Repli, tinha que ser de autoria dos integrantes. Também não poderia ter a participação de nenhum deles (bem… só a Julia teve essa licença poética, participando da versão feita pelo Os Torto). Escolhi a maioria das músicas que as bandas iriam gravar, com exceção das versões da Loomer, Autoramas, Walverdes e Anvil FX, que optaram por outras”, destaca Normann
Alguns convidados optaram por fazer algo mais próximo do cover. Outros preferiram evidenciar suas identidades. É o caso do surf clássico instrumental d’Os Pampa Haoles, que deram uma nova roupagem para ‘Surfista Calhorda’, um dos primeiros hits dos Repli. A Damn Laser Vampires também dá ares de garage rock/post punk com sua versão ‘Inverno Sombrio’, composição nem tão conhecida d’Os Replis. Na releitura, o vocalista e guitarrista Ron Selistre fez verteu a letra para o inglês e embalou isso numa sonoridade que remete a um encontro inusitado de The Fall com Bauhaus.
Músicos da nova geração marcam presença e mostram que o estilo está bem represntado. Kim Kircher, por exemplo, gravou guitarra, baixo e vocais na versão de ‘One Playe’r, que também contou com o produtor Fábio Gabardo na bateria, barulhos eletrônicos e um tambor afinado como tímpano, emulando detalhes da gravação original. A Flor Lagarto, trio de garotas formado em 2024, aparece numa versão flamejante de ‘Maria Lacerda’.
“Era para ser jogo rápido, mas demorou mais de um ano para ficar pronto. Foi também uma boa maneira de movimentar a cena, de homenagear os Replicantes que certamente são a banda que eu mais vi tocar ao vivo e… De ser odiado por algumas bandas que nem vão com a minha cara mas se acham embaixadores do punkrock subtropical e ficaram de cara por serem deixadas de fora”, admite Normann.
A arte da capa ficou por conta do fotógrafo e artista visual Fábio Alt, e concentra numa única ilustração várias referências que serão um deleite para os fãs decodificarem.
Conforme os organizadores, a ideia inicial era marcar os 40 anos de uma das bandas mais integras do rock brasileiro, mas acabou acabou atrasando para que alguns artistas convidados conseguirem tempo para ensaiar e produzir suas gravações.
“Todo mundo tem seus delírios, mas concretizar uma ideia requer muito trabalho, e para isso poucos se dispõe. Próximo tributo ,daqui uns cinco anos, deve ser em homenagem ao Nelson Coelho de Castro. Mas antes preciso recobrar minhas energias”, adianta Normann.
A ordem das músicas no em “Nunca Mais Eu Ouço Você” obedecem a cronologia dos lançamentos originais dos homenageados. Confira o tracklist:
LOOMER – PRINCÍPIO DO NADA (da coletânea “Rock Garagem”,1984)
AUTORAMAS – NICOTINA (1° compacto, 1985)
WALVERDES – ROCKSTAR (1° compacto, 1985)
DATING ROBOTS – O FUTURO É VORTEX (1° compacto, 1985)
OS PAMPA HAOLES – SURFISTA CALHORDA (1° compacto, 1985)
SPACE RAVE – BOY DO SUBTERRÂNEO (“O Futuro é Vortex”, 1986)
CIGARRAS – HIPPIE PUNK RAJNEESH (“O Futuro é Vortex”, 1986)
KIM – ONE PLAYER (“O Futuro é Vortex”, 1986)
INAPPROPS – A VERDADEIRA CORRIDA ESPACIAL (“O Futuro é Vortex”, 1986)
OS TORTO – CHERNOBYL (“Histórias de Sexo e Violência”, 1987)
CARLINHOS & FLU – ASTRONAUTA (“Histórias de Sexo e Violência”, 1987)
KATARZIZ – FESTA PUNK (“Histórias de Sexo e Violência”, 1987)
THE BIGGS (“Histórias de Sexo e Violência”, 1987)
DAMN LASER VAMPIRES – INVERNO SOMBRIO (“Papel de Mau”, 1989)
ANVIL FX – PROBLEMAS (“Papel de Mau”, 1989)
FLOR LAGARTO – MARIA LACERDA (“2010”, 2010)
DIRTY GRILLS – NIGHTMARES (“Libertá”, 2018)
